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O melhor do Mundo

17
Abr18

É só a mim que enerva?

Sou pessoa que se enerva com facilidade, admito, mas há coisas para as quais, nem nos dias bons, tenho paciência. 

Uma dessas coisas, e talvez a que me tire mais do sério, é o trânsito, principalmente quando é causado pela estupidez/ comudismo dos condutores.

Vivo numa cidade pequena, sem necessidade nenhuma de haver trânsito, mas acontece mais vezes do que o desejável passar alguns minutos seguidos parada. (Sim, eu sei que para quem vivi em Lisboa ou no Porto, passar 5 minutos no transito era um sonho). Olho à volta, em frente, para o relógio e penso: mas porque raio estamos aqui parados??? Quando finalmente avanço, percebo porquê. Já explico. 

Cada vez mais vejo as pessoas a tornarem-se comodistas e, principalmente, a pensar apenas nelas próprias. Cada vez mais as pessoas usam as pernas só para encaixar nas calças ou para tirar aquela foto-mete-nojo-na-praia. Para andar, está quieto. Vão de carro para todo o lado e têm que ficar o mais próximo possivel do destino, se possível lá dentro, mesmo que isso incomode os outros.

Sim, venho falar de quem estaciona/ pára o carro em qualquer lado. 

Na cidade onde moro há uma rua particularmente crítica, onde há uma churrasqueira e, para ir buscar o franganito as pessoas param o carro, meio em cima do passeio meio na estrada, impedindo a passagem no passeio para quem vai a pé, e o trânsito num sentido. Recentemente foi construído estacionamento ao longo desta estrada. Resolveu a questão? Claro que não, mesmo havendo lugares livres, há pessoas a parar mal o carro, só para ficar mesmo à porta. Ainda antes de construírem este estacionamento, já havia um descampado com espaço para centenas de carros a uns 200m da churrasqueira. Muito longe, portanto.

Depois há o quiosque com os jogos Santa Casa, localizado num dos principais cruzamentos da cidade, mesmo no centro, onde há sempre um carro parado para ir tentar a sorte ou comprar a revista.

Há o deixar ou ir buscar os meninos à escola, cada um no seu carrinho, há o ir buscar o pão, o não me apetece andar e, como diria o Ljubomir há o "tou-ma cagar".

Isto enervava-me porque perdia tempo, mas desde que vi um posta da Pipoca a falar sobre lhe trancarem o carro, percebi que , além deste transtorno à vida do dia a dia, podem estar a provocar situações bastante complicadas, a prejudicar gravemente terceiros. E se uma ambulância for a passar por uma das ruas entupidas pelo trânsito provocado por um carro mal parado/estacionado? Um carro da polícia, dos bombeiros, um pai que recebeu uma chamada da escola a dizer que o filho está mal, um filho que recebeu uma chamada do hospital para se ir despedir do pai? 

As pessoas vão "só ali", espreitam e vêem que " ah passa aqui um carro na boa" e vão à vida delas como se o mundo lhes pertencesse. 

Já varias vezes estive para parar para reclamar (indo a pé), já varias vezes deixei bilhetes quando devido a um carro mal parado passei imenso tempo a fazer manobras para tirar o meu do estacionamento, mas nunca "repreendi" ninguém diretamente. Hoje foi o dia.

Ia a pé e vejo um carro a abrandar, perto de uma zona de estacionamento com lugar para 6 carros e espaço livre para dois. A senhora foi avançando, passou os lugares vazios, avançou mais um pouco, parou, ligou os 4 piscas (toda a gente sabe que 4 piscas significa paro onde quero e ninguém pode dizer nada) e saiu do carro. Fiquei uns segundos especada, a tentar perceber se aquilo era verdade. Depois, deu-se este diálogo:

Eu: desculpe, mas porque é que parou o carro no meio da estrada com tantos lugares mesmo ali?

Ela: mas quer sair?

Eu: não, trata-se de uma questão de civismo.

Ela: É que se quiser sair eu tiro o carro. Vou só ali comprar pão!

Eu: não quero sair, trata-se apenas de uma questão de civismo.

Ela: virou as costas e entrou no café...

Isto aconteceu mesmo assim, não estou a exagerar, não estou a colorir para tornar a situação mais "interessante". Infelizmente foi mesmo tudo assim.

Cada vez mais cansada desta " sociedade".

26
Nov17

Descobrir a magia da pré-adolescência

Não tenho filhos. Quando vejo mães e pais com crianças que aparentam ter entre os 9 e os 13/14 anos, que estão ali numa fase em que não são carne nem peixe, em que já deixaram de ser crianças mas ainda não se sabe bem o que são, penso: deve ser uma seca. Penso, qual será o encanto desta fase?

Nestas idades, já não são as crianças com toda a sua ingenuinidade e graça, mas também ainda não são adolescentes, divertidos e desafiantes, e estão longe de ser os adultos companheiros que se deseja.  

A M. tem atualmente 9 anos. Conheci-a com 5 e, apesar de não ter vivido a fase mais infantil, a fase da descoberta do mundo concreto, sinto que já crescemos um pouco juntas.

A M. está a mostrar-me que esta fase, em que andam ali perdidos entre o ser e o não ser também tem o seu encanto. Aos 9 anos começam a mostrar, de forma mais inequívoca, a pessoa que serão. Aos 9 anos começam a estar mais alerta para o abstrato, para as relações entre as pessoas, para os sentimentos, para o significado das coisas. Começam a querer saber a verdade das coisas, a essência. Dão-nos sinais que estão mais atentos ao que acontece todos os dias, que pensam nos pequenos momentos e nas pequenas coisas que vão acontecendo à sua volta. 

O último fim-de-semana em que a M. esteve cá em casa deixou-me o coração tão cheio que, se tivesse dinheiro (e autorização) partia com ela numa viagem sem calendário. Uma viagem de descoberta para poder sorver esta fase tão boa.

Apesar de não ser mãe dela, e de não me caber a mim a função educativa, sinto que lhe devo passar alguns valores, que para mim são fundamentais. Porque sinto que há valores que se estão a perder e que, tendo eu oportunidade de os perpetuar com alguém das gerações que se seguirão à minha, tenho o dever de o fazer. Levo a M. comigo aos peditórios do Banco Alimentar e ao abrigo da Associação protetora dos animais. Converso com ela sobre assuntos que nos entram pela casa através da televisão, da internet ou dos livros, como a homossexualidade, a igualdade de género, o racismo, sobre o facto de não podermos por no mesmo saco toda a gente que tenha uma característica comum porque alguns deles fazem coisas más (ciganos, "pretos", muçulmanos, ...), sobre o facto de não termos o direito de gozar e inferiorizar alguém porque é diferente (porque é mais gordo ou mais magro, porque tem o nariz torto, porque tem uma defeciência, ...). Por vezes não uso as palavras concretas, por vezes não falo concretamente no assunto, mas entre as palavras proferidas fica a semente para a consciencialização.

No último fim-de-semana cá em casa, quando estava para regressar a casa da mãe, a M. pediu-me para levar um livro que comprei quando fiz estágio numa escola. Um colega de turma tinha andado a "gozar" com uma menina por ser mais gorda e ela queria pedir à professora que lesse o livro na aula. O facto de ela ter achado a atitude do colega errada e querer fazer algo a respeito disso, deixou-me cheia de orgulho, deixa-me lágrimas nos olhos cada vez que penso nisso.

A M. é uma menina doce e alegre e fico feliz por ver que se está a tornar numa menina crescida, consciente e alerta para as injustiças, que está pronta a arregaçar as mangas para ajudar e para fazer o que é correto. Esta foi apenas uma das situações, nos ultimos tempos, em que ela me fez ver como esta fase é encantadora, à sua maneira. A M. não pode ver um animal na rua sem achar que temos que fazer algo, não pode ver um peditório sem achar que precisamos de ajudar, não pode ver uma pessoa a ser inustiçada sem querer intervir. 

Minha querida M., obrigada por me mostrares a beleza desta fase, a magia do crescimento e do desenvolvimento de menina a futura mulher, obrigada por me ajudares a manter a esperança num futuro justo.

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