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O melhor do Mundo

26
Nov17

Descobrir a magia da pré-adolescência

Não tenho filhos. Quando vejo mães e pais com crianças que aparentam ter entre os 9 e os 13/14 anos, que estão ali numa fase em que não são carne nem peixe, em que já deixaram de ser crianças mas ainda não se sabe bem o que são, penso: deve ser uma seca. Penso, qual será o encanto desta fase?

Nestas idades, já não são as crianças com toda a sua ingenuinidade e graça, mas também ainda não são adolescentes, divertidos e desafiantes, e estão longe de ser os adultos companheiros que se deseja.  

A M. tem atualmente 9 anos. Conheci-a com 5 e, apesar de não ter vivido a fase mais infantil, a fase da descoberta do mundo concreto, sinto que já crescemos um pouco juntas.

A M. está a mostrar-me que esta fase, em que andam ali perdidos entre o ser e o não ser também tem o seu encanto. Aos 9 anos começam a mostrar, de forma mais inequívoca, a pessoa que serão. Aos 9 anos começam a estar mais alerta para o abstrato, para as relações entre as pessoas, para os sentimentos, para o significado das coisas. Começam a querer saber a verdade das coisas, a essência. Dão-nos sinais que estão mais atentos ao que acontece todos os dias, que pensam nos pequenos momentos e nas pequenas coisas que vão acontecendo à sua volta. 

O último fim-de-semana em que a M. esteve cá em casa deixou-me o coração tão cheio que, se tivesse dinheiro (e autorização) partia com ela numa viagem sem calendário. Uma viagem de descoberta para poder sorver esta fase tão boa.

Apesar de não ser mãe dela, e de não me caber a mim a função educativa, sinto que lhe devo passar alguns valores, que para mim são fundamentais. Porque sinto que há valores que se estão a perder e que, tendo eu oportunidade de os perpetuar com alguém das gerações que se seguirão à minha, tenho o dever de o fazer. Levo a M. comigo aos peditórios do Banco Alimentar e ao abrigo da Associação protetora dos animais. Converso com ela sobre assuntos que nos entram pela casa através da televisão, da internet ou dos livros, como a homossexualidade, a igualdade de género, o racismo, sobre o facto de não podermos por no mesmo saco toda a gente que tenha uma característica comum porque alguns deles fazem coisas más (ciganos, "pretos", muçulmanos, ...), sobre o facto de não termos o direito de gozar e inferiorizar alguém porque é diferente (porque é mais gordo ou mais magro, porque tem o nariz torto, porque tem uma defeciência, ...). Por vezes não uso as palavras concretas, por vezes não falo concretamente no assunto, mas entre as palavras proferidas fica a semente para a consciencialização.

No último fim-de-semana cá em casa, quando estava para regressar a casa da mãe, a M. pediu-me para levar um livro que comprei quando fiz estágio numa escola. Um colega de turma tinha andado a "gozar" com uma menina por ser mais gorda e ela queria pedir à professora que lesse o livro na aula. O facto de ela ter achado a atitude do colega errada e querer fazer algo a respeito disso, deixou-me cheia de orgulho, deixa-me lágrimas nos olhos cada vez que penso nisso.

A M. é uma menina doce e alegre e fico feliz por ver que se está a tornar numa menina crescida, consciente e alerta para as injustiças, que está pronta a arregaçar as mangas para ajudar e para fazer o que é correto. Esta foi apenas uma das situações, nos ultimos tempos, em que ela me fez ver como esta fase é encantadora, à sua maneira. A M. não pode ver um animal na rua sem achar que temos que fazer algo, não pode ver um peditório sem achar que precisamos de ajudar, não pode ver uma pessoa a ser inustiçada sem querer intervir. 

Minha querida M., obrigada por me mostrares a beleza desta fase, a magia do crescimento e do desenvolvimento de menina a futura mulher, obrigada por me ajudares a manter a esperança num futuro justo.

03
Nov17

Reduzir o impacto ambiental: começámos pelo café

Um dos objetivos cá de casa é, nos próximos anos, adotarmos progressivamente atitudes mais ecológicas.

Há várias atitudes que podemos tomar, umas mais fáceis que outras e, certamente, umas mais acessíveis que outras. Mas é precisamente por esse motivo, por não ser só estalar os dedos e tornarmo-nos imediatamente seres humanos com um impacto ambiental mínimo, que as atitudes vão mudando aos poucos, que dia-a-dia vamos mudando um ou outro comportamento ou forma de consumo para que consigamos chegar a um ponto de equilíbrio.

Começo esta partilha das mudanças que vamos fazendo pelo café. Eu não costumo beber café, só ocasionalmente com leite ao pequeno almoço. Já o L. bebe muito café, no mínimo uns 4 por dia. Costumava comprar na máquina do local de trabalho mas recentemente começou a levar açucar e café de casa e a fazê-lo ele próprio, uma espécie de café nas velhas. Inicialmente comprámos sticks de café e de açucar e levava dois de cada por dia. Dois sticks de café e dois sticks de açucar. E era aqui que estava o problema, a quantidade de lixo produzido diarimente de forma completamente desnecessária. Quando me apercebi deste erro partilhei com o L., que concordou imediatamente comigo. Qual foi a alternativa que arranjamos? Compramos embalagens grandes, tanto de café como de açucar, comprarmos caixas pequenas e vai enchendo consoante precisa. Quanto ao açucar, vem em embalagens de papel de um quilo, e dura imenso tempo. O café vem em frascos de vidros, que depois de vazios posso reutilizar para guardar outros alimentos.

E, pensando bem, ainda reduzimos o lixo produzido em mais uma vertente: o copo de plástico e a paletina que saiam da máquina com cada café, uma vez que desde que mudou a forma de consumir café no trabalho, mesmo quando levava os sticks, o L. começou a levar uma colher e uma chávena de porcelana na lancheira.

Além da redução no impacto ambiental da nossa família, esta mudança gradual também representa uma poupança em termos financeiros, uma vez que cada café fica considerávelmente mais barato do que os cafés da máquina.

 

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01
Nov17

Perder um animal de estimação

Perder um animal de estimação foi das piores coisas que já vivi. Sempre tive animais de estimação, mas desde há uns anos comecei a sentir realmente a importância que têm na minha vida. Pela companhia que me fazem, pelo amor verdadeiro e puro que me ensinaram a sentir, os meus animais têm cada vez mais importância na minha vida.

Atualmente, como vivemos num apartamento, temos apenas gatos, e um projeto para ter peixes. Depois tenho também os meus meninos da Associação Protetora dos Animais local, os cães a quem dedico todo o meu carinho e de quem recebo tantas lambidelas de gratidão.

Começámos por um gato, que nos escolheu a nós. Três anos depois decidimos arranjar-lhe companhia. E um ano depois outro bichano intrometeu-se na nossa vida para fechar as contas. Na verdade, se pudesse tinha um pequeno Zoo em casa, mas há que ter noção dos limites.

O "meu do meio" é um gato destrambelhado que pensa que é um morcego. Passava a vida a pôr-se do lado de fora das janelas, e eu em pânico só ouvia "é um gato, não cai". Algumas semanas depois de o termos recebido, caiu da varanda do segundo andar durante a noite. Não sabemos quanto tempo passou até que o vizinho nos batesse à porta, de manhã com ele na mão. Uma pata partida, uma operação e 300€ depois, ficou como novo. Eu é que nunca mais fui a mesma. Paranoica com as janelas. Além do episódio em que caiu, fui percebendo que ele não tem noção do perigo. Atirava-se para as janelas de qualquer maneira atrás de uma mosca, a fugir do "irmão" ou para apanhar algum pássaro que tinha passado na rua. Não fosse o vidro estar fechado e tinha voltado a cair uma e outra vez.

No início do mês de outubro, na véspera do dia do animal, o Weasley desapareceu. Segundo o L., deixou a janela do quarto apenas com uma fresta aberta mas ele conseguiu abrir mais e caiu. Demos por falta dele no máximo uma hora depois mas foi insuficiente para o encontrarmos. Nos dias seguintes corremos tudo à procura dele. Seguimos todas as dicas: levar comida, chamar por ele, colocar a areia dele na rua. Colocámos cartazes, publicámos no facebook. Fizémos tudo o que estava ao nosso alcance mas não havia sinal dele em lado nenhum. Se por um lado a ausência de noticias me deixava mais tranquila, por outro sentia um pânico enorme que, devido à queda tivesse havido alguma hemorragia e ele tivesse ficado caído nalgum lado. Os primeiros dias foram de um desespero indescritível. Chorava sempre que a minha cabeça deixava de estar ocupada. Não me conseguia conformar que ele tivesse um fim tão triste, quer fosse diretamente da queda, quer fosse do passar do tempo, da fome, do frio. Os dias foram passando e fui deixando de procurar. Comecei a pensar em retirar os cartazes, mas nunca o cheguei a fazer porque sentia que isso seria desistir. Claro que segui em frente, mas todos os dias pensava nele. Até que, na passada sexta-feira me ligaram para dizer que tinham visto o meu gato. Porque tinham visto um dos cartazes, que eu sabia que tinha que tirar mas não tinha coragem para o fazer. Sem grande esperança, no dia seguinte fui ao local e, logo que os nossos olhos se cruzaram, mesmo ao longe, o meu coração acelerou. Fui ter com ele e chamei-o, ao que ele respondeu com um miar assustado e aflito. Veio ter comigo e logo que olhei para a cara dele, magra e assustada, soube que era mesmo ele. Confirmei todos os pormenores, visiveis para qualquer pessoa, e os pormenores que só eu conheço. A cor dos olhos que mais nenhum gato tem, a mancha preta na pata que só eu vejo. Mesmo sabendo que estava imundo, provavelmente pejado de pulgas e carraças, abracei-o, apertei-o em todos os abraços que não lhe pude dar ao longo de quase um mês.

O meu Weasley está bem, está de volta e acho que vou colocar-lhe um GPS.

Para muita gente o que eu senti é descabido, é só um gato. Mas aquilo que eu senti foi surreal, bem doloroso e quem compreende a real ligação que estabelecemos com os nossos animais, compreende que o que se sente quando se perde um animal de estimação é como se uma parte de nós fosse arrancada e atirada para longe.

Felizmente a história tem um final feliz. 

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